quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ney Conceição impressiona público em Belém

Se hoje Ney Conceição é considerado um dos maiores contra-baixistas do país, o produto do experimentalismo só podia ter lançamento no Teatro Experimental Waldemar Henrique, em Belém, sua casa. Acompanhado de músicos locais e nacionais, esse paraense da gema do açaí, por ora assentado no sudeste do País, deixa claro que o título remete a uma forma de se comunicar, de enviar notícias de um mundo geograficamente maior para outro mais distante, através da arte. Nada melhor do que a música, uma metáfora das ondas tropicais dos rádios, para esse trabalho de autopsia da história das difusoras.

O show de lançamento (13/01/2013), em si, foi eletrizante, estonteante. Atingiu a maior amplitude de onda quando tocou a música-título em homenagem ao interiorano Dominguinhos, entubado numa CTI, sob risco de sucumbir. Foi uma espécie de oração ao ritmo do nordeste. Além de Arimatéia, um trumpetista participativo de realengo que tufava a jugular com seus sopros metálicos, havia ainda o baterista Cristiano Galvão e o percussionista Dadadá. As Participações do trio Manari e Sebastião Tapajós fez-nos mostrar quão possível é a integração entre os povos, basta ler a partitura da vida. Mas o maior destaque, afora o Ney, foi o carioca Luiz Otávio, de 23 anos, tecladista. Converteu-se em Stevie Wonder e reluziu. Reluziu no sentido jazzístico, ainda que suas turvas retinas lhe escondam a luz.


A platéia estava extasiada. Eram músicos, artistas de outras áreas, professores ligados à arte, e eu, acompanhado de meu filho, um irrequieto contrabaixista e admirador do Ney. Olivar Barreto contorcia seu pomo; Almirzinho Gabriel se maravilhava; Nego Nelson pedia bis. Marcos Puff, o destemido Ariel e uma turma de saxofonistas invadiram o palco, no final, para regozijar Ney. Uma festa interiorana, dessas com direito a bingo. João Pedro, o filho, dedilhava às escondidas um contrabaixo que eu fingia ver. E eu? Só batia palmas. Era o que me restava. É a única coisa que sei fazer.


Texto:  Roger Normando

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